domingo, 21 de agosto de 2011

LITERATURA BRASILEIRA EM VISÃO AMPLA - JUNÇÃO DE TODOS OS MOVIMENTOS LITERÁRIOS DE SUA ÉPOCA

A LITERATURA BRASILEIRA NO SÉCULO XX
 I - INTRODUÇÃO
     A Literatura Brasileira produzida até o início do século XX sempre foi importada, ou seja, seguia os modelos literários europeus  contidos na Literatura Portuguesa,  que nos foi imposta juntamente com tudo aquilo que nossos colonizadores imprimiram à nossa cultura durante o período em que Portugal dominou o Brasil político-econômica e socialmente. É por isso que tal Literatura nunca foi legitimamente BRASILEIRA, engajada à realidade; é por isso que o negro, o índio, os mestiços falavam e agiam como brancos nobres e cultos; por adotar apenas o padrão culto da Língua, a Literatura "Brasileira" sempre foi privilégio de uma elite (da elite para a elite). Em suma: a Literatura Brasileira nunca foi Brasileira!
  Já a partir de 1901, porém, alguns dos escritores brasileiros mais importantes  começam a elaborar obras que têm como tema sempre um assunto retirado da realidade do país, obras que contêm personagens das mais diversas regiões brasileiras, utilizando  um vocabulário( uma linguagem) que reproduz fala das pessoas que habitam essas regiões: obras que, portanto, adotam todos os padrões de linguagem,  o que as tornam obras lidas pelos mais diversos tipos de leitores. Uma Literatura Brasileira autêntica!
     Outras novidades que vão aparecendo na obra literária do início do século: o autor tem LIBERDADE na escolha do assunto, da linguagem,  da forma e do estilo que deseja dar a ela. Essa LIBERDADE é a essência da obra MODERNA. É por isso que podemos afirmar que o Modernismo no Brasil começa no início do século XX, através das obras que já possuem tal "essência": as de Euclides da Cunha, Graça Aranha, Lima Barreto, Monteiro Lobato, etc. - os chamados "Pré-Modernistas".
     As obras especializadas em Literatura Brasileira colocam como marco do Modernismo no Brasil a realização da "Semana de Arte Moderna", em 1922, e que o Modernismo encerra-se em 1945. A Literatura produzida de 1901 a 1922 seria um "Pré-Modernismo"e a produzida depois de 1945, um "Pós-Modernismo". Na verdade, porém, a Literatura Brasileira de 1901 até hoje pertence ao MODERNISMO, pois  as características continuam as mesmas e as divisões citadas são meramente didáticas.
II- O "Pré-Modernismo" (1901-1922)
 . 1902: Euclides da Cunha escreve a obra "Os Sertões", composta de três partes: "A Terra", "O Homem",  "A Luta"; a linguagem poética utilizada na descrição da paisagem que serviu de palco à "Revolta de Canudos" - objeto das reportagens de Euclides  que originaram a obra -, o realismo com que são focalizados o homem nordestino e os problemas sociais, econômicos e políticos vividos por ele por causa da seca e a fidelidade das imagens que compõem a "Revolta", fizeram com que o público exigisse à publicação dessa obra que é considerada a obra-marco do "Pré- Modernismo". Outras obras de Euclides da Cunha (1866-1909) são: "Contrastes e Confrontos", "Peru versus Bolívia", "À margem da História" e "Canudos". No mesmo ano, Graça Aranha (José Pereira da Graça Aranha: 1868-1931) publica sua obra-prima "Canaã";
. 1909: Lima Barreto ( Afonso Henriques de Lima Barreto: 1881-1922) escreve a sátira "Recordações do Escrivão Isaías Caminha", considerada uma obra auto-biográfica  que critica o meio jornalístico e literário que discrimina e não dá oportunidades ao escritor negro;
. 1915: Lima Barreto publica a caricaturesca obra "Triste Fim de Policarpo Quaresma", a mais importante do autor;  escreveu também "Clara dos Anjos", "Bruzundangas", "A Nova Califórnia", etc;
. 1918:Monteiro Lobato (José Bento Monteiro Lobato: 1882-1948) publica a obra "Urupês", que dá destaque ao padrão regional da linguagem, utilizada pelo habitante do interior paulista - o dialeto caipira - ; a personagem principal da obra é Jeca-Tatu, através do qual  Lobato faz uma crítica ao homem do campo passivo ( o "urupê") e explorado. Lobato também critica a rotina e a falta de perspectiva que caracterizam as cidadezinhas do interior paulista na obra "Cidades Mortas". Além da importante atuação de Lobato como autor "pré-modernista", foi ele quem revolucionou a distribuição de livros, levando-os a todos os cantos do país, e foi ele o "criador da Literatura infantil Brasileira".
III- ANTECEDENTES DA SEMANA DE ARTE MODERNA
(Ao lado das produções "Pré-Modernistas", vários fatos e eventos culminaram com a realização da SEMANA DE ARTE MODERNA):
 .1909:publicação do "Manifesto do Futurismo", mola mestra do Modernismo; Paul Fort é eleito "Príncipe dos poetas franceses" para escândalo dos tradicionalistas;
.1912:com 22 anos, Oswald de Andrade volta da Europa totalmente contagiado pelas idéias futuristas, incumbindo-se de formar uma geração futurista em nosso país;
.1913:o pintor EXPRESSIONISTA russo, Lasar Segall, faz sua primeira exposição na Rua São Bento. A crítica brasileira não o ataca por não entender sua arte e porque o pintor era casado com uma senhora da alta sociedade paulista;
.1914:Início da 1a. Guerra Mundial; Primeira exposição de Anita Malfatti, pintora brasileira que traz da Europa influências CUBISTAS e  EXPRESSIONISTAS, na "Casa Mappin"; Rangel Pestana, jornalista influente na época, faz duras críticas à exposição; Anita Malfatti vai aos Estados Unidos complementar seus estudos;
.1915: Ronald de Carvalho participa da fundação e publicação da "Revista Orpheu", revista futurista que marca o início do Modernismo em Portugal, ao lado de Fernando Pessoa;
.1916: fundação da "Revista do Brasil", dirigida por Alfredo Puljol, Júlio Mesquita, etc, sendo seu princípio básico o NACIONALISMO, um dos princípios do Modernismo; uma das seções mais famosas da revista: "O dialeto caipira";
.1917: Publicação de livros de poemas modernos: a) "Há uma gota de sangue em cada poema", de Mário de Andrade; b) "A Cinza das Horas", de Manuel Bandeira; c) "Juca-Mulato", de Menotti del Picchia; d) "A frauta de Pã", de Cassiano Ricardo.
     No mesmo ano, a pintora Anita Malfatti faz sua mais famosa exposição, que lhe valeu a crítica severa de Monteiro Lobato intitulada "Paranóia ou Mistificação?"; Oswald de Andrade publica artigo em defesa de Anita;
.1918: Fim da 1 a. Guerra Mundial e expansão da indústria brasileira;
.1919: No Palácio das Indústrias e com a ajuda do arquiteto Ramos de Azevedo  (autor do Teatro Municipal de São Paulo), o escultor Vitor Brecheret (autor do Monumento às Bandeiras) monta seu ateliê ; Oswald conhece Brecheret e divulga sua arte no quinzenário "Papel e Tinta", que dirige com Menotti del Picchia;
.1920: Oswald e Graça Aranha voltam da Europa com as propostas de todos os "Movimentos da Vanguarda Européia";
.1921:Na casa do empresário Paulo Prado, um dos mais importantes mecenas do Modernismo, localizada na Av. Higienópolis, todos os artistas, escritores e jornalistas modernos reúnem-se e têm uma idéia comum: organizar um evento que mostre aos brasileiros o Modernismo que já existe desde o começo do século, mas que ainda não foi oficializado. Todos são unânimes: uma SEMANA DE ARTE MODERNA, em 1922, em São Paulo, local e data do Centenário da Independência Política, coincidindo com a Independência Artística e Literária!
 IV - MODERNISMO BRASILEIRO 1922-1930: Os Movimentos Nativistas
1. Contexto Histórico:
     Coincidentemente, nos dias 25, 26 e 27 de março de 1922 - pouco mais de um mês, portanto, depois da realização da SEMANA DE ARTE MODERNA - ocorre o congresso da fundação do PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO, ainda sob o impacto da Revolução Russa ocorrida em 1917. Entre os fundadores desse partido estão vários anarquistas...
     No início do mesmo mês de março de 1922, os brasileiros elegem Artur Bernardes à presidência do Brasil. Ele é o representante da então chamada "política do café-com-leite", ou seja, representa as oligarquias de São Paulo e de Minas Gerais. Bernardes havia derrotado o candidato representante de Pernambuco/Bahia/Rio de Janeiro/Rio Grande do Sul: Nilo Peçanha; por isso, jovens oficiais militares, descontentes com o resultado das eleições, tentam impedir a posse de Artur Bernardes e exigem mudanças. Bernardes toma posse quase que às escondidas...
     Em julho de 1922, o governo de Bernardes é marcado pelo seu primeiro estado de sítio, conseqüente da famosa revolta do Forte de Copacabana, que durou 24 horas e custou a vida de 17 militares e um civil no confronto com três mil soldados do governo. Além de constante estado de sítio, o governo Bernardes é marcado pela censura à Imprensa e pelas intervenções nos Estados.
    Em 1924, estoura uma revolução de tenentes em São Paulo. Depois de um mês, os revoltosos paulistas vão ao encontro de tropas vindas do Rio Grande do Sul comandadas por Luís Carlos Prestes. Está formada a "Coluna Prestes", que por dois anos e meio divulga ideais revolucionários pelo Brasil.
     O ano de 1926 marca o fim do governo de Artur Bernardes e início do governo de Washington Luís, que continua a política de seu antecessor...
2. A Arte e a Literatura: os MOVIMENTOS NATIVISTAS.
     Em 15 de maio de 1922, surge a "Revista KLAXON",  porta-voz das novas idéias e características modernistas que começavam a tomar corpo, graças ao escândalo que provocavam nos "tradicionalistas" durante e depois da SEMANA DE ARTE MODERNA.
     Em 1924, Oswald de Andrade lança o MOVIMENTO PAU-BRASIL, propondo uma literatura autenticamente nacionalista, fundada nas características naturais do povo brasileiro: é preciso recontar a História do Brasil sob o ponto de vista dos "dominados"- do índio, do negro, do colonizado. Tal movimento combate a influência estrangeira, a linguagem preciosa e vazia, exalta o progresso e a era presente, rompendo radicalmente com o passado (nítida influência do FUTURISMO, portanto).
    Reagindo contra essa posição primitivista, surge, em 1925, o MOVIMENTO VERDE-AMARELO (mais tarde chamado de GRUPO DA ANTA), que não aceita a ruptura radical do passado proposta pelo primeiro grupo: "Aceitamos as instituições conservadoras, pois é dentro delas que faremos a inevitável renovação brasileira"
     Em 1928, mais uma vez liderados por Oswald de Andrade, surge com  Alcântara Machado, Raul Bopp, Tarsila do Amaral, dentre outros, o MOVIMENTO ANTROPOFÁGICO, cujo manifesto é publicado na "Revista de Antropofagia". Tal movimento desenvolve as idéias lançadas no "Movimento Pau-Brasil" e se opõe ao conservadorismo do "Movimento Verde-Amarelo". O novo grupo propõe a atitude simbólica de "devoração" (de destruição) de valores e estrangeiras (incluindo aquelas incutidas em nossa Cultura pelo colonizador), numa atitude essencialmente DADAÍSTA, portanto.
     A obra modernista do período de 1922-1930  é predominantemente poética. Os poemas são livres na forma, nacionalistas no conteúdo e na linguagem. A pouca "prosa" que é feita não é nada parecida com a prosa tradicional (linear, organizada em parágrafos): resultante de influências cubo-futuristas, essa "prosa" é denominada TELEGRÁFICA.
3. Principais autores do período:  Os poetas mais importantes do período - os mais "rebeldes" de todo o Modernismo Brasileiro - são: Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Raul Bopp, Ronald de Carvalho, Guilherme de Almeida. Na "prosa", o destaque é para Alcântara Machado.                                
V- MODERNISMO BRASILEIRO - 1930/45
 1. Contexto Histórico
   1.1  O MUNDO:
 - l929: CRACK da Bolsa de Nova York / grande depressão interna e internacional: desemprego, greves, falências, caos generalizado; o "boom" da economia norte-americana se estende a todos os países da Europa; nos países subdesenvolvidos, a situação é  indescritível... Solução encontrada: cada país tenta solucionar a crise mediante a intervenção do Estado na Economia. A crise agrava as questões sociais e começa a ocorrer um avanço dos partidos socialistas/ comunistas para combatê-las; a burguesia, em posição oposta, deseja um Estado autoritário, pautado por um nacionalismo conservador, militarista, anticomunista e antiparlamentar, ou seja, um ESTADO FASCISTA.  A ditadura, a censura, o militarismo, a política armamentista, enfim, o FASCISMO se instala e se alastra pela Europa e até fora dela: a Itália tem Mussolini no poder, a Espanha, Franco; Portugal, Salazar; a Alemanha - melhor ainda - tem Hitler; o Brasil, Vargas...
     Conseqüência da solução encontrada: a SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, pois ela é o melhor que poderia acontecer para que o reaquecimento da Economia Capitalista (na verdade, a sua ressurreição) fosse uma realidade: afinal, em tempos de guerra há situação de pleno emprego, as indústrias - principalmente a bélica - trabalham em período integral; no comércio ocorre o mesmo e o mercado acaba exigindo uma produção científica e tecnológica cada vez mais avançadas e até os  cientistas têm muito trabalho. Em tempos de guerra, a Economia Capitalista funciona como um relógio e, logicamente, quem "lucra"(em todos os sentidos) com isso é a classe dominante, cada vez mais poderosa social-econômica-e-politicamente. A SEGUNDA GUERRA termina em 1945, quando os Estados Unidos lançam sua bomba atômica em duas cidades japonesas - Hiroshima e Nagasaki - mostrando ao mundo sua posição privilegiada perante ele...
   1.2. O BRASIL
 - 1930:  a crise econômica mundial se reflete no país e se alia a acontecimentos econômicos e políticos aqui ocorridos, tornando a situação brasileira insustentável; só para se ter uma idéia, em 1930 ocorre o fim das oligarquias ligadas ao café e da "República Velha", como conseqüências dos seguintes acontecimentos:
   . no mês de março do mesmo ano acontecem as eleições: de um lado Júlio Prestes - representante dos "senhores do café"- e do outro, Getúlio Vergas - representante dos industriais. Júlio Prestes é eleito pelo povo e deve ser empossado  em novembro;
   . em outubro, com o apoio da burguesia industrial e dos militares, "estoura" a "REVOLUÇÃO DE 30", que coloca Getúlio Vargas no poder. É o fim da economia  do café e da "República      Velha"(do poder ligado ao café).
- l932: tentativa contra-revolucionária em São Paulo, pois a oligarquia cafeeira sentia-se prejudicada pela economia do governo Vargas, que privilegiava totalmente a indústria; essa "tentativa" é a famosa REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA  ocorrida no dia 9 de julho (o MMDC).
     Sobre o assunto, de um lado Oswald de Andrade escreve um romance crítico "Marco Zero - a Revolução Melancólica", e de outro, Guilherme de Almeida escreve vários textos "ufanistas" bem ao gosto do poder da época. Para completar, Plínio Salgado funda a Ação Integralista Brasileira, que reforça como nunca os ideais fascistas que devem ser absorvidos pela juventude brasileira.
-1934: começam as tentativas de reações contra tudo o que tem acontecido, com a fundação da ANL - Aliança Nacional Libertadora, da extrema esquerda;
-1935 : A ANL é fechada pelo governo, muitas pessoas são presas e o governo torna-se ainda mais duro;
-1937: endurecendo cada vem mais o governo e contando com a ajuda dos militares e dos Integralistas, principalmente na destruição daqueles que se rebelam contra seu governo, Getúlio Vargas inicia sua ditadura, conhecida na História do Brasil como ESTADO NOVO.
     É nesse contexto que o Modernismo Brasileiro vai ser escrito, como a mais engajada das literaturas de todos os tempos, pois os escritores do período de l930-45  reproduzem essa realidade cruel e caótica - doa a quem doer - em linguagem  brasileira e estilo neo-realista, servindo de modelo literário para o mundo...
2. A LITERATURA BRASILEIRA NO PERÍODO DE 1930 a 1945
 2.1.  O predomínio da PROSA:
     A obra moderna do primeiro período, como vimos, manifestou-se principalmente em versos e a "pouca" prosa que foi feita, em quase nada lembra a prosa de ficção tradicional: chamados de TELEGRÁFICOS, os romances e os contos da primeira fase são verdadeiros poemas, são poesia pura.
    Passada a fase de combate e agressividade contra os tradicionalistas e com a conquista definitiva da liberdade lingüística, que passa a valorizar todos os padrões da linguagem do Brasil, a PROSA surge com força  total, predomina sobre a produção em versos e desenvolve-se em 3 direções:
 2.1.1 PROSA REGIONALISTA: é aquela que reflete as preocupações  sociais e políticas que agitam o Brasil (e o mundo) na época, a ficção que envereda para o documentário social, do qual o ROMANCE NORDESTINO  é o principal exemplo. A publicação de "A Bagaceira", de José Américo de Almeida, é o marco inicial de uma série de obras, cuja preocupação fundamental é o interesse pelos problemas do Nordeste: o drama das secas, a exploração da população humilde, as desigualdades sociais (ROMANCE NEO-REALISTA)
 2.1.2. PROSA URBANA: é aquela que representa os problemas e as situações da vida nas cidades, que se torna cada vez mais complexa, mostrando os contrastes entre as personagens (suas expectativas) e as estruturas sociais (o que na realidade o grande centro urbano lhes oferece) . 
2.1.3. PROSA INTIMISTA: ao lado das tendências anteriores, cujo interesse principal é representar os desajustes e adaptações das personagens ao meio natural e social em que passam a viver, mostrando que o último é o mais forte, surge a ficção intimista ou psicológica moderna. Nessa tendência, predominam os interesses pela análise do MUNDO INTERIOR das personagens e seus conflitos íntimos.
 Obs: FICÇÃO, aqui, é sinônimo de narrativa literária, ou seja, de romance, novela e/ou conto (principalmente romance).
      Os autores mais importantes da prosa moderna produzida no período são: JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA, JOSÉ LINS DO REGO, GRACILIANO RAMOS, JORGE AMADO, ERICO VERISSIMO, MARQUES RABELO, RACHEL DE QUEIROS, etc.
 2.2. A evolução da POESIA:
     Abandonando o espírito destrutivo e irreverente da primeira fase, a poesia apresenta um gradual amadurecimento, aproveitando a liberdade formal e lingüística conquistadas e ampliando seus temas. Na fase anterior,  a poesia é essencialmente nacionalista; no período de 30 a 45, temos poesias em todos os gêneros e temas: a SOCIAL,   a RELIGIOSA, a LÍRICA, a ÉPICA, etc, atendendo a todo tipo de leitor (e de poeta: do clássico ao futurista) e marcando definitivamente a presença da poesia moderna no Brasil.
           São desse período uma safra de poetas que dispensam apresentações: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, VINÍCIUS DE MORAES, CECILIA MEIRELLES, MURILO MENDES, etc.
"Pensem nas crianças mudas, telepáticas
Pensem nas meninas cegas, inexatas
Pensem nas mulheres rotas alteradas
Pensem nas feridas como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam da rosa da rosa
da rosa de Hiroxima, a rosa hereditária,
a rosa radioativa, estúpida , inválida,
a rosa com cirrose, a anti-rosa atômica,
sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada"
("Rosa de Hiroxima", Vinícius de Moraes)   
VI - MODERNISMO BRASILEIRO  de l945 até hoje (“Pós-Modernismo”)
 1 - CONTEXTO
    1. Período Populista ( l945 - l964)
-1945 : Eurico de Gaspar Dutra é eleito presidente da República,  depois do governo Vargas (ditadura solitária);
-1946 : posse de Dutra e uma nova Constituição é promulgada (proibição de voto aos analfabetos); crescimento econômico  o roendo de grande volume de exportações, em que os maiores favorecidos são os industriais, privilegiados desde o governo Vargas;
-1947 : O Partido Comunista é considerado ilegal e seus deputados  são cassados ( e caçados! )
-de 1943 até 1951 o  salário mínimo é congelado;
-1950 : surge a primeira emissora de TV do país - TV TUPI;  volta de Getúlio Vargas à presidência da República, defendendo o TRABALHISMO ( conjunto de medidas que regularizem e tragam vantagens ao trabalhador brasileiro);
-1953 : grande greve operária de 20 dias é vitoriosa e, com ela, o Trabalhismo de Vargas; criação da Petrobrás (monopólio  estatal);
-1954 : elevação de 100% do salário-mínimo e aliança GOVERNO-OPERÁRIOS . Essa "República Sindicalista" de Vargas, como é chamada, gera protestos (lógico!) da  classe dominante  e dos militares. Em agosto do mesmo ano, Vargas suicida-se (?) depois da denúncia de que trustes estrangeiras estavam se beneficiando em seu governo (que ele fazia "vistas grossas"); Café Filho, vice de Vargas, assume o governo até o final daquele  ano.
-1955: começam os ANOS DOURADOS, com a eleição de JK; até 1960 o Brasil vive uma fase de desenvolvimento econômico, graças mais  uma vez à INDÚSTRIA, que se expande a cada dia: são abertas  indústrias nacionais e multinacionais (automobilísticas, de eletrodomésticos, construção naval, cimento, papel, celulose, etc);
-1960 :  JK funda Brasília e afunda o Brasil ! As dívidas conseqüentes da construção de Brasília, aliada à criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) fazem com que o governo precise emitir moeda sem valor: a INFLAÇÃO, desde então, passa a ser rotina na vida do país. Para complicar ainda mais essa situação, por causa da  indústria a Agricultura havia sido relegada: faltam alimentos, é preciso importá-los. Mais dívidas. JK espera ser reeleito para, no seu próximo governo, desenvolver a Agricultura de tal forma, que o Brasil, além de satisfazer suas necessidades internas, teria condições de fornecer alimentos a outros países e, com essas exportações, pagar as dívidas causadas por "Brasília"... Mas JK não foi  reeleito...
-1961 : toma posse como presidente Jânio Quadros, assumindo o compromisso de salvar o país através de uma política de honestidade e austeridade que agradasse a todos. No dia 25 de agosto do mesmo ano, porém, Jânio renuncia com menos de sete meses de governo por causa de "forças terríveis e ocultas"...
   Em setembro do mesmo ano de 1961, o vice de Jânio, João Goulart, toma posse num clima de descontentamento por parte  dos ministros militares e de iminência de uma guerra civil. Adota-se como provisório um governo parlamentarista.
-1963: num plebiscito, 80% dos votos dos brasileiros pedem a volta do presidencialismo, já que o parlamentarismo em nada havia resolvido a crise social - econômica - política do país. Um plano - o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social - do governo é elaborado, mas há uma rejeição total por ele. Nesse mesmo ano, João Goulart se inclina para a esquerda"...
   2. Ditadura Militar
-1964: no dia l3 de março, Goulart faz um comício em que anuncia "decretos que objetivam apressar reformas de base", salientando sua tendência esquerdista.
   No dia 25 de março ocorre um motim de marinheiros e a renúncia do Ministro da Marinha. Outros chefes militares, para a preservação "da ordem, do bem comum, das instituições...", decidem intervir e promover uma Revolução "sem sangue"que leva ao poder presidentes militares . Começa a ditadura, a censura, o terror...
-1964/67: Governo de Humberto de Alencar Castello Branco, autor do AI-1 (suspende a Constituição de 46, cassa mandatos e direitos políticos), do AI-2 (renova o AI-1 e cria dois partidos: ARENA e MDB) e do AI-3, uma nova Constituição que inclui os atos anteriores);
-1967/69: Governo de Artur da Costa e Silva, marcado pelo AI-5, ou seja, pelo recesso do Congresso, pela confirmação dos atos anteriores, pela censura cada vez mais severa;
-l969/74: Governo Emílio Garrastazu Médice, marcado pelo clima de otimismo e ufanismo ("Brasil: ame-o ou deixe-o", "Prá frente, Brasil", "Ninguém segura esse país") causados pela Copa do Mundo, da Transamazônica, da Belém-Brasília, de Itaipu e do "milagre" econômico realizado pelo Ministro da Economia Delfim Neto; (simultaneamente: torturas, exílios, mortes)
-l974/79: Governo Ernesto Geisel. Fim do AI-5!
-1979/84: Governo Figueiredo, da abertura política, da criação de partidos como PDS, PMDB, PTB, PDT, PP e PT, da ANISTIA, que esvazia as prisões e traz de volta ao país os exilados. Ufa!
      Essa história termina como todos sabem: depois de Figueiredo, Tancredo Neves é eleito presidente pelo Colégio Eleitoral; sua morte impede a posse, que passa a ser do vice, José Sarney. Depois de tantos anos de ditadura, o povo brasileiro pode votar, através do voto direto, para presidente... Tomara que a democracia seja como a vida: aprende-se a acertar, errando!
2- A LITERATURA PÓS 45
    É nesse clima sócio-econômico-político conturbado que a Literatura Brasileira pós 45 é produzida. Até a década de 70, a produção literária é intensa, apesar do contexto: o que é dito tem que ser dito como se não fosse e os autores são verdadeiros MALABARISTAS DA METÁFORA:
    2.1. A  POESIA pós 45
       2.1.1 O CONCRETISMO
   Para que  a poesia pudesse competir com a televisão e com outros meios de comunicação de massas ( com os Quadrinhos, por exemplo, que também estão na moda), ela precisa ser o mais "áudio-visual" possível.
   Em l956, o Concretismo, movimento liderado por Augusto e Haroldo de Campos, e por Décio Pignatari, como o nome já indica, preocupa-se em trabalhar (com) o lado concreto, material, palpável do SIGNO LINGÜÍSTICO: SEU SIGNIFICANTE; propõe "substituir o verso tradicional por novas estruturas baseadas na associação formal dos vocábulos e em sua posição espacial na página, em alinhamentos geométricos (influência cubista); em contraposição a uma poesia subjetiva, aspira a uma poesia objetiva, exata, sintática e sintética, ou seja, capaz da comunicação imediata das manchetes dos jornais, das revistas, dos quadrinhos, ou seja, uma poesia ligada às ARTES GRÁFICAS, à MÚSICA, à PINTURA, à  ARQUITETURA, acompanhando o desenvolvimento tecnológico e INDUSTRIAL do mundo moderno.                   
   vai          e          vem
    e                          e           
   vem        e           vai

       2.1.2. TROPICALISMO
      Na década de 70, surge um Movimento artístico e literário liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil - o Tropicalismo - inspirado totalmente no Movimento Antropofágico de Oswald de Andrade (DADAÍSMO), a ponto do Tropicalismo ser chamado pelos seus líderes de A NOVA ANTROPOFAGIA. Prova disso é que o Tropicalismo é marcado no TEATRO pela peça "O rei da vela", de Oswald. Na Música/Literatura, a obra-marco é "Tropicália", de Caetano Veloso. Esse foi o último Movimento importante de que se tem notícia. Percebe-se nesse movimento a influência concretista.
  2.1.3. João Cabral de Melo Neto e Ferreira Gullar
    João Cabral torna-se famoso com "Morte e Vida Severina" ou "Auto de Natal Pernambucano"(veja TEATRO MODERNO); enquanto poeta, faz uma poesia que versa constantemente sobre o próprio fazer poético (metalinguagem), como em "Catar Feijão"; faz também uma poesia surrealista e social (o homem nordestino é duro como o solo em que vive : é pedra), como em "A educação pela pedra"e "A Pedra do Sono".
   Ferreira Gullar faz uma poesia engajada  e panfletária: "em virtude da razoável competência estética com que tratou temas ligados à política de 1964, intelectuais de orientação liberal descobriram em sua poesia um instrumento de combate ao autoritarismo do momento." Escreveu "O quartel" (poemas surrealistas), "Agosto 1964", "Não há vagas" e "Poema Sujo".
  2.2 A PROSA PÓS 45
    Além  de romances (ultra-regionalistas e ultra-intimistas), o período pós 45 marca o surgimento do CONTO, da CRÔNICA  e do TEATRO MODERNOS.
       2.2.1. A Prosa de ficção do período:
   Vimos o surgimento e o desenvolvimento da Prosa de ficção no período de 30 a 45, de 3 tipos: a regionalista, a urbana e a intimista - narrativas lineares e cronológicas.
   A prosa elaborada a partir de 1945 rompe com os esquemas narrativos tradicionais adotados nos anos 30 e instaura um NOVO PROCESSO ROMANESCO (narrativas alineares, com tempo psicológico). É a prosa ultra-regionalista de Guimarães Rosa e a ultra-intimista de Clarice Lispector. Apesar das profundas diferenças da obra de cada um, há em ambos uma postura de insubordinação e uma constante pesquisa do instrumento que lhes servem de base: a LINGUAGEM. Por essa razão, ambos são chamados INSTRUMENTALISTAS;  o que vale dizer que se preocupam muito com a construção de seus trabalhos (LINGUAGEM POETICA). Além disso, observa-se nos dois uma madura sondagem do mundo interior das personagens com poder generalizante (Existencialismo). A diferença mais evidente entre ambos é que Guimarães Rosa preocupa-se ainda com a manutenção do enredo com suspense, ao passo que  Clarice Lispector abandona a noção de trama romanesca (não há uma história sendo contada) e  se detém no registro monótono dos incidentes se consequências do cotidiano urbano ou no mergulho em profundidade para dentro de personagens isoladas e problemáticas. Ambos cultivam igualmente o romance e o conto. Em Clarice, o mergulho na alma feminina é um dos temas predominantes, como em "Uma Galinha".
NOTA: o EXISTENCIALISMO é uma corrente filosófica moderna,  do qual Sartre é um dos representantes máximos, que tem como objeto de estudo a existência, ou seja, o modo de ser do homem no mundo. Só o "EU" existe de verdade: o existencialista valoriza antes o indivíduo (sua vontade) do que a coletividade.
     Além de Clarice e G. Rosa, destaca-se o regionalista José Cândido de Carvalho com "O Coronel e o Lobisomem", Carlos Heitor Cony com "O Vento" e Osman Lins com sua narrativa tradicional como "O fiel e a pedra".
       2.2.2. O CONTO
      O conto tem sido ultimamente, um gênero muito apreciado:
a) J.J. Veiga, com seus contos alegóricos: "Os cavalinhos de platiplantos"e "A máquina extraviada";
b) Rubem Fonseca e o relato do mundo brutal da metrópole através de uma correspondente linguagem violenta: "A coleira do Cão" e Lúcia MacCartney";
c) Murilo Rubião com seus contos marcados pelo insólito e pelo absurdo, como em "O Pirotécnico Zacarias";
d) Lygia Fagundes Telles: "Antes do Baile Verde"
e) Otto Lara Resende: "O lado humano" e "O retrato na gaveta";
f) Dalton Trevisan, considerado o contista moderno mais importante opta pelo registro "seco" e breve do mundo pequeno-burguês de Curitiba, como em "Novelas nada exemplares", "Cemitério de Elefantes", "O vampiro de Curitiba".
       2.2.3. A CRÔNICA
      Considerada a narrativa literária de menor extensão, cujo conteúdo aborda sempre fatos do cotidiano com objetivo crítico, a crônica moderna também surge no período pós 45, destacando
Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Stanislaw Ponte Preta, Carlos Drummond de Andrade, dentre outros, como os melhores no gênero.
   2.3. O TEATRO MODERNO
    Na década de 20  Oswald de Andrade escreve 3 peças "O homem e o cavalo", "A morte"e " O Rei da Vela".
   Em 1932, Joracy Camargo escreve a peça que vai imortalizar, com ela, o ator Procópio Ferreira: "Deus lhe Pague", que conta a história de um mendigo que ficou rico através de esmolas.
   A partir de 1940, porém,  o teatro moderno passa a ser produzido em grande escala:
-l940: Louis Jovet e Ziembinsk chegam ao Brasil;
-1943: Ziembinsk dirige a peça "Vestido de Noiva", de Nélson Rodrigues, com o GRUPO OS COMEDIANTES;
1948: Fundação do TBC - TEATRO BRASILEIRO DE COMÉDIAS, com "Os comediantes" acima citados: Cacilda Becker, Walmor Chagas, Sérgio Cardoso, Tônia Carrero, Paulo Autran, etc, que encenam os principais autores estrangeiros de todos os tempos;
-1953: fundação do TEATRO DE ARENA, na tentativa de criar um teatro brasileiro autêntico:"Eles não usam black-tie " (Guarnieri), " Chapetuba Futebol Clube" (Oduvaldo Viana Filho), e "Revolução na América do Sul "(Ferreira Gullar);
-na década de 60:
   a) influência americana - os musicais - como em "Arena conta Zumbi";
   b) GRUPO OPINIAO, com Oduvaldo Viana Filho e Ferreira Gullar;
   c) 1966: "Morte e vida Severina" é encenada no TUCA, com músicas de Chico B. Hollanda;
   d) 1967: GRUPO TEATRO OFICINA, liderado por José Celso Martinez Correia, encena "O Rei da Vela", de Oswald para marcar o início do TROPICALISMO NO TEATRO;
   -1969: Ruth Escobar encena "Cemitério de Automóveis" e "O Balcão"; Chico B. Hollanda com "Roda Viva"  e a ditadura invade o TEATRO...
- PRINCIPAIS AUTORES DO TEATRO MODERNO:
1. Nélson Rodrigues (mergulho no subconsciente): "Vestido de Noiva",
   "Álbum de família", "A falecida", "Beijo no asfalto", etc
2. Jorge Andrade (reconstrução de episódios da História do Brasil, principalmente sobre o ciclo do café): "A Moratória", "Os ossos do barão", etc
3. Ariano Suassuna: "Auto da Compadecida" (tradição do auto, folclore nordestino)
4. Gianfrancesco Guarnieri (preocupação com problemas sociais): "Eles não usam black-tie", "Gimba", "Arena conta Zumbi", "Castro Alves pede passagem",etc
5. Dias Gomes (religiosidade): "O Pagador de Promessas" e "O Santo Inquérito";
6. Plínio Marcos (violência): "Navalha na Carne", "Dois perdidos numa noite suja";
7. Oduvaldo Viana Filho (sobre a situação social e política brasileira): "Chapetuba Futebol Clube", "Corpo a Corpo" e "Rasga, Coração";
8. Pedro Bloch (monólogos): "As mãos de Eurídice";
9. Chico B. de Hollanda (visão crítica da sociedade brasileira): "Calabar", "Roda Viva", "Gota d’água", "Ópera do malandro"

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